A erupção do Fogo em 2013 - memórias do Interilhas (04)
Quando o Fogo conquistou o seu primeiro e até agora único Interilhas, a ilha toda entrou em erupção. No ano seguinte, o vulcão também se lembrou de acordar.

Há 12 anos, o Fogo transformava-se na quarta ilha a conquistar a Taça Independência. Quando terminou a final frente a São Vicente, no então velhinho estádio 05 de Julho, toda a ilha do Vulcão entrou em erupção. Era o resgatar do orgulho foguense, 33 anos depois da primeira grande façanha da ilha no futebol nacional (Em 1980, Botafogo tinha sido campeão nacional).
Se há males que vêm por bem, o caso da seleção do Fogo, em 2013, é uma daquelas situações que se encaixam que nem uma luva neste ditado. A ilha do vulcão decidiu acolher, pela primeira vez, a Taça Independência. Era, na altura, a 10ª edição.
O treinador escolhido para orientar o combinado anfitrião foi João Borja. Elaborou, inicialmente, uma lista de 30 pré-convocados com os quais começou a trabalhar. Entretanto, numa conjugação brutal de fatores, de repente Borja vê-se perante um situação complicada, sem 11 jogadores, mais de um terço dos pré-convocados. Uns por lesão, outros por emigração e outros, ainda, afastados por indisciplina. Entre os indisponíveis estavam nomes sonantes como os irmãos Guy e Keven, Kinzin, Jailson, Nany, Ady, Loloti, Katio, Trapatoni, Bodo e o avançado Tó, que na altura era figura do Sporting da Praia.
Perante tamanha razia, começou a reinar alguma descrença no seio dos foguenses. O próprio treinador chegou a admitir que a seleção havia ficado “mais fragilizada”, mas ao mesmo tempo garantia um grupo “moralizado.”
As fraquezas transformaram-se em forças! A seleção anfitriã reconstituiu-se, partiu para a luta e, logo no jogo inaugural, recebeu uma grande injeção de moral ao vencer a Boa Vista por 1-0. Estava dado o tiro de partida para uma campanha que viria a ser triunfante.
Nas meias-finais, Fogo tinha pela frente um grande desafio: ultrapassar a seleção de Santo Antão que vinha de três presenças consecutivas em finais do Interilhas. Gerou-se um grande ambiente em torno dessa partida. O estádio 05 de julho encheu-se. O jogo foi exigente, viril, com golos numa e noutra baliza. No fim, a vitória caiu para a formação da casa, venceu por 3-2 e avançou para a final.

Final? Oh, mais uma grande muralha a transpor! Mas não havia mais receios, por essa altura todos já se tinham esquecido das incertezas dos dias anteriores ao inicio do torneio. Chegados à final, os foguenses já cantavam de galo. Só pensavam em fazer história. “Kel taça ka ta ba di li, du ka ta dixal propi”, ouvia-se, com frequência entre os adeptos.
E de facto o troféu de campeão ficou na ilha do vulcão. Na final, com o estádio 05 de julho abarrotado, Fogo derrotou São Vicente por 1-0. O avançado Adérito foi o herói da conquista ao marcar, de grande penalidade, o golo que levou toda a população da ilha à loucura. Faltava cerca de um quarto de hora para o fim e já nada se alterou. No fim, João Borja chorou, os jogadores foram à lua e, com eles, levaram os patrícios.
Em 2013, Fogo intrometeu-se no triângulo SÃO VICENTE – SANTIAGO – SAL e tornou-se na quarta ilha a conquistar a Taça Independência (até agora são apenas essas quatro). Nesse dia, a ilha toda estremeceu-se, entrou em erupção.
Ironicamente, no ano seguinte, seria o vulcão a fazer, também, o seu reboliço.



